É fato notório que seja o Brasil um país com altas taxas de violência e de assassinatos, e que isso seja sintoma de um país extremamente pobre e desigual, nada interessado no investimento social e nas resoluções da segurança pública para além do sensacionalismo barato. E obviamente a violência recai sobre grupos vulneráveis, como mulheres, negros, negras e LGBTs. Por evidência nesta nota apenas com foco na comunidade LGBT, segundo estimativas, o nosso país é o que mais mata LGBTs no mundo por motivações lgbtfóbicas. Em uma sociedade capitalista notoriamente patriarcal como a nossa, é natural que se imaginem formas de combate imediato contra tais agressões criminosas. Afinal, são vidas e a dignidade humana que estão em jogo.
Sabemos que o Estado burguês não realizará de maneira séria e duradoura políticas públicas efetivas de combate às opressões. Sabemos da condição precária de trabalho da maioria dos LGBTs em subempregos. E sabemos que entre a criminalização e a inibição de condutas agressivas de ódio há uma distância gigante, pois se trata da complexa relação entre o direito e a política, entre a lei e a sociedade, entre o ideal e o real. Por isso, a verdade é que a simples tipificação de lgbtfobia apenas a torna equivalente às outras discriminações no âmbito legal, mas estruturalmente nada mudará. É importante ressaltar de que a não criminalização não implica em não impunidade, há possibilidade de enquadramento dos casos como lesão, homicídio, injúria. Além disso, o Brasil tem a terceira maior população carcerária do mundo e com uma alta taxa de reincidência, será que o preso acusado de lgbtfobia seria “reeducado” e “ressocializado”? E por ultimo, diante de um judiciário burguês tão repressor, abusivo, racista, patriarcal e lgbtfóbico, diante desse judiciário golpista, seria mais do que razoável acreditar que a punição penal recairá majoritariamente para a população mais marginalizada da sociedade: trabalhadores desempregados, pobres, negros e negras. Obviamente não serão homens e mulheres da burguesia os alvos prioritários do judiciário burguês nos casos de lgbtfobia.
A esquerda hegemônica (socialdemocrata/social-liberal) erra em aderir cegamente e acriticamente a uma ideologia punitivista e identitária pura, inócua e simplória, esquecendo assim de pautar as condições de trabalho, os dilemas sociais e de saúde física e mental que tanto atingem a comunidade LGBT. A esquerda hegemônica erra em apostar no direito penal, mesmo que de modo simbólico, pois apenas fortalece o poder judiciário burguês e cria uma proteção meramente simbólica aos LGBTs. Pior, essa aposta deseduca os e as LGBTs que pretendem lutar de verdade, mas são enganados por uma pauta formalista e simbólica. Ademais, tudo isso, costuma dividir o debate nas massas. e distancia a comunidade LGBT da luta pela verdadeira erradicação da LGBTfobia, qual seja a luta revolucionária pelo socialismo. A prioridade é alertar LGBTs trabalhadores e trabalhadoras sobre a luta de classes, a prioridade é lutar contra a LGBTfobia com foco nas condições precárias de trabalho, a prioridade é mudar o quadro pós-moderno no comando da comunidade LGBT, liderada hoje por LGBTs da classe burguesa, que não estão preocupados com nossos e nossas trabalhadoras LGBTs.
A erradicação de qualquer tipo de opressão só será possível com a arquitetura de uma nova moral, de uma nova cultura e de uma nova educação, todas em sentido emancipatório, libertador, todas a modularem novos homens e novas mulheres. E isso só será possível, ou seja, a total superação da lgbtfobia e demais opressões só será possível em uma sociedade cujo modelo não seja baseado na exploração humana, na qual o capital prevalece sobre os interesses dos trabalhadores. Não há dúvida de que a lgbtfobia, o machismo e o racismo são opressões da superestrutura racista, patriarcal, lgbtfóbica e conservadora da sociedade capitalista. Em outras palavras, há lgbtfobia porque essa opressão, assim como as outras, é do interesse da burguesia que divide a classe trabalhadora com um moralismo arcaico. Da mesma forma, a burguesia já percebeu que a luta simbólica, e nada concreta, contra as opressões também gera dividendos nas suas empresas capitalistas “descoladas”. Ao mesmo tempo em que oprime, a burguesia também divide o campo progressista, divide a esquerda, e ofusca aqueles e aquelas que ousam lutar pela transformação radical (revolucionária). Não é por acaso que bancos e tantas empresas capitalistas embarcaram em uma propaganda “humanista”, pautando uma “luta” meramente protocolar “contra todas as formas de preconceito” e pelas criminalizações das opressões. A burguesia lucra com as opressões e lucra com o “lacre” das pautas simbólicas de “luta” contra as opressões. Não há nem haverá liberdade ou emancipação no capitalismo!
O horizonte sempre deve ser o da emancipação total da classe trabalhadora, o que consequentemente será também a emancipação das mulheres, dos negros, das negras, e dos e das LGBTs da classe trabalhadora. Porém, hoje, em acúmulo de forças, mesmo com todos os limites já expostos aqui, limites naturais do Estado burguês, devemos admitir apoio crítico à criminalização da lgbtfobia por ser medida de clamor e de desespero das nossas irmãs e irmãos LGBTs da classe trabalhadora, que imaginam que essa medida terá algum efeito real no combate contra a lgbtfobia. Da mesma maneira, conforme está no Programa Socialista Popular Brasileiro, ora programa revolucionário da A Marighella – CPR, defendemos que no Socialismo Popular Brasileiro se tenha uma punição dura contra a lgbtfobia e demais formas de opressão, o que evidentemente será acompanhado com a construção de uma nova moral, de uma nova cultura, e de uma nova educação libertadora.
A Junta Coordenadora da Setorial LGBT da Organização A Marighella – Construção do Partido Revolucionário.
Brasil, 13 de julho de 2019; ao centésimo oitavo ano de imortalidade do Comandante Carlos Marighella.