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JPB: concentrar esforços na construção e no fortalecimento da Ação Libertadora Estudantil

Em tempos de crise, em dias de indecisões e de incertezas, em período de dispersão do campo progressista, fundamental a retomada das origens, o resgate das decisões congressuais, e o reforço de nossa singular missão – a honrosa tarefa de construção do Partido Revolucionário -, por tudo isso, a Juventude Popular Brasileira (JPB) – setorial de jovens da Organização A Marighella – CPR -, em cumprimento às deliberações do II Congresso de nosso Partido, vem reforçar a nossa posição sobre o movimento estudantil. E para tanto, faremos uso da primeira resolução de nosso Comando Nacional, elaborada em 10 de fevereiro de 2015, e igualmente faremos uso de nossa própria resolução setorial aprovada no II Congresso do Partido no ano passado.

Não é novidade para os nossos camaradas mais antigos, porém, aos mais novos é preciso recordar que até pouco tempo o nosso Partido, ora tão jovem (completaremos seis anos de fundação no próximo 6 de julho), era muitas das vezes confundido no ambiente das forças políticas como um organismo de movimento estudantil e de juventude. Não raro os nossos dirigentes à época, de habilidade inestimável, permitiam isso (até certo ponto) para alcançar maiores acúmulos na própria construção do Partido, em particular no período de apoio crítico ao finado Governo Dilma. Os êxitos de nossos trabalhos, as vitórias acumuladas, a estrutura avançada, tudo somente reforça o caráter assertivo do lema da juventude construtora do Partido Revolucionária, ora o nosso lema da JPB: disciplina, malandragem e revolução.

Todavia, a complexidade da ação política do Partido em tempo de acúmulo primitivo da luta revolucionária obrigou por questão pedagógica e preventiva que o Comando Nacional editasse a sua primeira resolução, na qual tinha como objeto de análise e decisão justamente a relação entre A Marighella e o movimento estudantil, entre o Partido e esse importante movimento de massas. Depois de certo período, com o amadurecimento da expressão marighellista no cotidiano das lutas, com a organicidade estruturada do Partido, com a manifestação de nossas conquistas e glórias, principalmente no próprio movimento estudantil, com os lançamentos embrionários da setorial sindical e da Ação Libertadora dos Trabalhadores (ALT), e principalmente em virtude do recrudescimento da conjuntura nacional, o Comando Nacional, órgão dirigente maior de nosso Partido nos intervalos congressuais, decidiu por retirar de circulação na rede mundial dos computadores (internet) o texto da Resolução I (“A Marighella e o movimento estudantil”), ficando o mesmo restrito às formações e estudos internos. Entretanto, a Junta Coordenadora da JPB entendeu por necessário publicar trechos desse importante documento, e teve seu pedido prontamente aceito pelo nosso iluminado CN (Comando Nacional).

Importa recordar, antes de tudo, que a opção do Partido pela priorização do movimento estudantil e pelo recrutamento de jovens estudantes não é medida do acaso, mas um planejamento traçado desde a nossa fundação. Com o perdão do clichê, a juventude do povo de agora é a futura classe trabalhadora, e a Juventude Popular Brasileira de hoje é o futuro da Construção do Partido Revolucionário. Além disso, o movimento estudantil, por mais limitado que seja, ainda assim é um ambiente de fácil disputa, sem os vícios pesados das eleições sindicais. Tão logo o ME (movimento estudantil) é o espaço no qual nosso Partido tem acumulado conquistas e vitórias desde a sua fundação, preparando as suas ferramentas para em breve tomar em definitivo o rumo da disputa sindical também. E não têm sido poucos os esforços para o cumprimento das metas da setorial sindical na tarefa de recrutamento de mais e mais trabalhadores e trabalhadoras.

Sobre a relação marighellista com o movimento estudantil, a Resolução I (A Marighella e o Movimento Estudantil) assim ensina: 

“O movimento estudantil brasileiro, bem como a luta política do conjunto dos movimentos populares, sofre de uma crise diretamente ligada à emergência dos princípios revisionistas e pequeno-burgueses adotados pelas principais forças políticas da esquerda de nosso país. A ditadura militar cumpriu um papel essencial no estrangulamento das forças revolucionárias e na aniquilação de importantes elementos da vanguarda das lutas populares, bem como das estruturas que regiam consistentes movimentos de massa ao longo do país. A abertura política dirigida pelas classes dominantes e a ascensão de forças políticas estranhas aos princípios revolucionários do marxismo-leninismo acabaram por consolidar a tática eleitoral enquanto elemento central das estratégias destas novas forças protagonistas. Diversas organizações originárias da completa degeneração do antigo Partido Comunista do Brasil (PCB) acabaram por tomar caminho semelhante, apostando na construção de vias eleitorais próprias ou adentrando ao jogo da democracia burguesa mediante a tática de construção de frentes eleitorais historicamente ligadas à socialdemocracia, ou até mesmo a elementos explicitamente burgueses.

​A predominância da estratégia eleitoral e os descaminhos da esquerda brasileira – também fruto das vitórias logradas pela burguesia no plano internacional, com a consolidação neoliberal e o refluxo do movimento comunista ao redor do globo terrestre – acabaram por conformar um total enfraquecimento nos horizontes da luta revolucionária em nosso país, dotando os movimentos de massa de uma função meramente acessória das extensas máquinas burocráticas desenvolvidas em prol das lutas parlamentares e renegando o marxismo-leninismo ao museu de nossa história. O movimento estudantil, outrora tradicional reduto de elementos da vanguarda das lutas populares, não escapou a esse lamentável desvio organizacional e ideológico, deixando de proliferar quadros para a luta revolucionária e concentrando seus esforços na consolidação de poderosos currais eleitorais, confluindo com a estratégia eleitoral da nova esquerda. As precárias escolas brasileiras e as universidades até hoje erguidas, antes consideradas aparelhos de dominação de classe, também passaram a angariar novos sentidos na agenda da nova esquerda, crente na possibilidade de “popularizar” instituições burguesas sem a derrocada do Estado burguês.”

Ao enumerar os pontos orientadores da linha marighellista no movimento estudantil, a Resolução I, em 2015, traçou os caminhos da conclusão do presente documento da JPB, como veremos a seguir:

“1) A ascensão do revisionismo pequeno-burguês e das tendências pós-modernas da esquerda brasileira contribuíram, substancialmente, para afundar o movimento estudantil na condição de mero acessório das estratégias eleitorais de distintas forças políticas. Enquanto resposta a submissão do movimento de massas a essas estratégias, essencialmente coniventes com o status quo da democracia burguesa, multiplicaram-se no movimento estudantil tendências caracterizadas pela evocação de princípios basistas e alienantes, em consonância com matrizes ideológicas liberais e pós-modernas, dissolvendo os conceitos de “consciência” e “luta de classes” em uma discursiva que privilegia as chamadas “identidades” (identitarismo) e a emergência de distintos “novos atores”. Da mesma forma, a discursiva reacionária do combate ao chamado “aparelhamento” e à presença de organizações políticas no movimento estudantil passou a ganhar considerável apoio destes setores liberalizantes e autocontemplativos da esquerda pequeno-burguesa. Combater o oportunismo e o revisionismo, bem como a efervescência da ideologia burguesa sob nova roupagem, é uma tarefa indispensável de nossa intervenção no movimento estudantil, organizando os estudantes brasileiros para atuar ao lado dos movimentos populares nas distintas trincheiras da luta de classes, orientando-se pelos princípios do marxismo-leninismo-marighellismo.

2) O movimento estudantil cumpre um papel central na disputa ideológica da sociedade por lidar diretamente com as contradições entre a ideologia propagada pelos aparelhos ideológicos do estado burguês (escolas, universidades, etc) e a massa de estudantes oriundos das camadas populares, educados e adestrados para reproduzirem a ordem de dominação de classe, destinados a transformarem-se em mão de obra para o mundo do trabalho e qualificados, ou não, de acordo com as diversas estratificações de níveis educacionais.

3​) A enorme difusão de contradições e pautas próprias da rotina dos estudantes brasileiros, muitas vezes pautas que transcendem o âmbito da estratégia e tática das organizações de vanguarda, dá ao movimento estudantil o caráter de movimento de massas, no qual é dever de toda organização revolucionária intervir com ferramentas adequadas para capitalizar o descontentamento geral da população brasileira para com a histórica precarização da educação em nosso país. A construção de uma ferramenta visando adesão massificada dos estudantes e prezando por vitórias imediatas da luta política estudantil é imprescindível para o sucesso da intervenção comunista neste importante âmbito da sociedade brasileira. Da mesma forma, o recrutamento de quadros provindos do movimento estudantil deve ser uma constante, tendo em vista a também histórica ligação desse com a construção da vanguarda das lutas populares em nosso país.

(…) 7) Rechaçamos o discurso idealista, metafísico e pequeno-burguês que busca colocar a luta pela educação no centro da agenda política das organizações de esquerda, iludindo as camadas populares da possibilidade de transformar o caráter de classe de históricos tentáculos da sociedade burguesa (escolas, universidades, etc.). Dentro dos marcos capitalistas, o nosso dever é trabalhar com as profundas contradições existentes nesses meios, revertendo-as num acúmulo de forças capaz de conformar um efetivo movimento de massas concomitantemente ao fortalecimento da vanguarda revolucionária. A luta atual do movimento estudantil deve ser a luta pela educação necessária ao Brasil e seu povo, algo possível de avançar ainda dentro dos marcos do Brasil capitalista. Porém, obviamente, a luta pela educação necessária deve objetivar o rumo da educação popular, uma plataforma educacional nova e revolucionária, ora demanda cristalina da sociedade socialista do novo Brasil a nascer depois da Revolução.”

No ano passado, durante o II Congresso de nosso Partido, aprovamos uma completa Resolução Setorial da JPB (Juventude Popular Brasileira). O documento intitulado “A Juventude que o Brasil precisa” desenvolveu uma análise irretocável sobre o momento dos jovens do povo brasileiro e sobre a oportunidade singular de nosso movimento estudantil, então observem:

“A crise brasileira tem feito a juventude de nosso povo agonizar, seja com o alto desemprego, seja com o congelamento de investimentos em educação e demais áreas sociais, seja com a total falta de perspectiva de presente e de futuro nas atuais condições de nossa nação, não sendo pequena a quantidade de jovens que sonha em morar, estudar e trabalhar fora do Brasil. Mais do que uma crise econômica e política, o que a juventude sofre hoje é também uma crise moral e de valores, uma crise profunda que estimula o extremo individualismo de nossos jovens. Entre os problemas imediatos particulares e o convite ao ingresso de uma luta por mudanças amplas e coletivas, os jovens, em sua maioria, optam pela primeira opção, e não raro na ânsia de “ganhar dinheiro” rápido, acabam abandonando estudos, e se dedicando somente ao “trabalho” (explorado pela burguesia) e ao lazer (marcado por fortes tendências consumistas). Não rara também é a quantidade cada vez maior de jovens, que frustrados com os dilemas da vida adulta neste sistema, acabam sofrendo de patologias psicológicas e psiquiátricas, tais como depressão e transtornos de diversos tipos, verdadeiras epidemias na juventude do sistema capitalista no século XXI.

É claro que diante da crise, as perspectivas individualistas tendem a se potencializar, haja vista que primeiro vem o instinto de sobrevivência, e depois uma eventual tomada de consciência coletiva (ou de classe). Entretanto, o cenário juvenil encontra-se mais desolador. A juventude que outrora foi engajada e organizada, hoje, quando se mobiliza, mobiliza de maneira dispersa, com brevidade, e não raro com certo espontaneísmo. Por evidência, as bandeiras que mais agitam são as identitárias, e por sorte, alguns temas educacionais, como foi o caso das ocupações secundaristas nas escolas em 2015/2016. Todavia, a regra é o afastamento geral da luta política mais sólida, a regra é o esvaziamento dos debates centrais (de classe e de nação), a regra é o distanciamento, e até mesmo raiva, de partidos políticos, de movimentos estudantis organizados e de qualquer coisa que tenha o mínimo de disciplina organizativa.

Colaboram para essa triste realidade a liquidez e a volatilidade imensas, tão expostas nas redes sociais, ora marcas das relações interpessoais nesses dias de sítios virtuais de relacionamentos, que cada vez mais aprisionam as imaginações e as possibilidades de construções reais. Tudo está virtual. Até mesmo a luta: campanhas de mobilizações pelas redes, abaixo-assinados na internet (petições online), confirmações em eventos de protestos, que só existem nas redes. Enfim, o nosso tempo é o tempo da falsa horizontalidade, que indisciplina, desorganiza, e desmantela todas as expressões organizativas solidificadas e com projetos reais de mudança social. Na prática, horizontaliza-se falsamente as relações políticas no campo virtual para manter a verticalização social de classes e imperialista no mundo real. Não por acaso a internet nasceu no Pentágono (sede militar do imperialismo ianque) e os proprietários dos principais sítios virtuais de redes sociais são membros da burguesia internacional.

De toda a maneira, cumpre salientar neste 2018, aos cinquenta anos do festejado maio francês de 1968, e aos cinco anos do badalado junho brasileiro de 2013, que a Juventude Popular Brasileira (JPB), setor de juventude da Construção do Partido Revolucionário no Brasil (Organização A Marighella), sabe bem quais papéis verdadeiramente exerceram e exercem esses episódios na dialética histórica do movimento juvenil.

A influência de maio é marcada por um suposto esgotamento das expressões organizativas comunistas, um ataque ao centralismo democrático e a tudo que era caracterizado por disciplina e organização de fato. A célebre frase “é proibido proibir” retrata o sentimento liberal que era fomentado entre os jovens franceses naquele maio de 1968. Dessa forma, mecanismos mais completos e totalizantes eram afastados do cotidiano da juventude, que era encantada pela ausência de qualquer direção política mais geral, pois, a pauta era tudo. Assim cresceram à época, e muito, os movimentos de cunho identitário, tomando um corpo inédito e incentivando o abandono às causas gerais. O feminismo, por exemplo, teve a sua explosão organizativa nessa época, fazendo questão de criar uma falsa divergência entre a causa do socialismo e a causa da luta das mulheres, trabalhando pelo distanciamento das mulheres francesas do PCF (Partido Comunista Francês), que mesmo com alguns problemas ainda era uma força avançada naquele tempo. Além disso, no campo teórico, maio de 1968 produziu o pensamento pós-moderno, ampliando o discurso pacifista contrarrevolucionário (Michel Foucault, por exemplo). E ao final, o resultado eleitoral e político de maio de 68 foi o giro ainda mais à direita na França nos anos seguintes.

Com as devidas diferenças, junho brasileiro de 2013 era também marcado pelo apartidarismo, pelo confronto entre as “velhas” e “tradicionais” mobilizações com as novas, era o enfrentamento entre os movimentos de bandeira única e os partidos do campo progressista que disputavam a linha da luta pelo transporte público de qualidade. No entanto devido a um erro histórico da esquerda democrática que se apresentava no governo federal da época (PT e PCdoB), acabou que junho se tornou totalmente um barco à deriva, com resultados políticos imprevisíveis. Tais legendas democrático-burguesas compreenderam que junho era um possível golpe ao governo de Dilma, que na época possuía grande apoio popular. Essa análise estava equivocada na origem, pois as mobilizações pautavam inicialmente um tema correto e popular, algo que faz parte do programa de qualquer força progressista, a questão da mobilidade urbana. As mobilizações de junho de 2013, no começo, não miravam o Palácio do Planalto, mas, sim, as prefeituras municipais. Foi justamente a ausência de forças progressistas mais estruturadas na disputa dos rumos daquelas mobilizações que facilitaram o trabalho da reação, muito animada pelo estímulo da voracidade imperialista, uma relação direta para a configuração de um campo nas redes e nas ruas de oposição à direita do governo Dilma, então não alinhado na política externa com Washington. É assim que nasceriam movimentos do tipo “think tank” como o “MBL” e “Vem Pra Rua”, coletivos dispostos a construir uma “revolução colorida” no Brasil, tática semelhante que o imperialismo já havia utilizado em outros países (Líbia, Egito e Ucrânia, por exemplo).

Foi justamente a partir dessa análise crítica do erro histórico da esquerda brasileira e da percepção de que o reacionarismo estava perigosamente em crescente, que tivemos o ambiente oportuno e necessário para a fundação da Organização A Marighella com resgate da missão de construção do Partido Revolucionário.

Diante desse cenário de enorme desesperança juvenil, qual seria o papel da juventude que constrói o Partido Revolucionário? Em primeiro lugar, a tarefa é categoricamente afirmar a esperança, a esperança de um novo Brasil e de um novo mundo, horizontes que nos movem a lutar. O caos não é a ordem das coisas. A indisciplina não é geratriz de liberdade. O sistema de injustiça e desordem e exploração há de ser superado! E para superá-lo é indispensável uma sólida organização coletiva, classista, disciplinada, com centralismo democrático, com programa claro, com análises consequentes, verdadeiramente, enfim, uma força política revolucionária. A nossa tarefa é nadar contra a maré do pensamento pós-moderno identitário, do individualismo, e do liberalismo reacionário. A nossa tarefa é fortalecer a construção do Partido Revolucionário na juventude, disputando as redes, as ruas, as escolas e as faculdades, elevando o nível de consciência social coletiva e de classe entre os jovens.

É preciso focar na juventude estudantil, especialmente a secundarista, pois essa está no começo de sua formação pessoal. É ali que se forma o homem e a mulher do futuro brasileiro. É ali que está uma crucial disputa dos rumos da consciência de nosso país. Do jovem pequeno-burguês das escolas particulares ao jovem filho da classe trabalhadora nas escolas públicas, a nossa tarefa é filiar o máximo para a Ação Libertadora Estudantil, organizando e filtrando os de maior potencialidade revolucionária para a Organização A Marighella.

(…) Na educação, a missão segue na luta pela educação necessária ao Brasil e seu povo, rumo à educação popular! É preciso revogar a reforma temerária do ensino médio! É preciso recuperar organizadamente os programas educacionais de acesso ao ensino superior, é preciso garantir a permanência e assistência estudantil! O Brasil precisa de um plano nacional de educação que esteja à altura do projeto nacional e popular, projeto da Etapa Nacional-Libertadora, atual etapa da Revolução Socialista Brasileira.

No movimento estudantil, a tarefa é fortalecer ao máximo a ALE, filiando mais e mais estudantes secundaristas e universitários neste importante movimento. Mais do que isso, o próximo período exige a transformação da ALE numa concreta entidade estudantil nacionalmente representativa, que defenderá diariamente os estudantes brasileiros e seus direitos, desde o plano imediato das demandas urgentes até o final da educação que queremos e precisamos. Além disso a ALE, enquanto entidade estudantil nacional, deve assumir a função emissora da carteira de identificação estudantil, o que garantirá maior sustentabilidade da luta pela educação que o Brasil precisa. Para tanto, condenar o monopólio da UNE/UBES/ANPG na expedição do principal documento estudantil é preciso. Afinal, o monopólio somente interessa aos detentores das máquinas institucionais em que se tornaram aquelas históricas entidades. A nossa orientação é seguir a dialogar com aquelas entidades, entretanto, sem aceitar qualquer tipo de centralização sobre a linha aqui exposta. Ninguém centralizará a Construção do Partido Revolucionário: servimos ao povo e a ninguém mais. Devemos fortalecer a edificação da ALE”.

Além disso, após a eleição de Jair Bolsonaro abriu-se um novo período do golpe, e, por conseguinte, um novo momento das lutas. A crise e as indefinições do campo progressista, as frequentes recaídas do lulismo e do petismo, elementos de divisão das massas populares, que precisam ser superados, e então ainda sintomas tão aflorados nas maiores entidades nacionais (UNE/UBES/ANPG), para além dos vícios pequeno-burgueses identitários, e a inviabilidade de disputa real da direção central (executiva) e dos rumos dessas entidades, tudo isso fez com que a reflexão mais acertada fosse a de retirada da JPB das tarefas dos congressos daquelas entidades. Apenas participamos de modo protocolar em nossos espaços prioritários por questão de defesa territorial.  

Cumpre esclarecer que a visão de inviabilidade de disputa real da UNE/UBES/ANPG por qualquer força política que não seja a mesma que dirige essas entidades, desde antes do golpe militar de 1964, considera que a AP (Ação Popular) continuou por longo período as suas atividades organizativas no repaginado PCdoB. E não cabe aqui uma ofensa a essa força política, afinal, eles fazem o famoso arroz com feijão, pois é natural que os estatutos dessas entidades sejam inviabilizadores de uma mudança nos comandos. Todavia, não temos fetiche por CNPJ (cadastro nacional de pessoa jurídica), a luta estudantil não está amarrada por siglas, mesmo que sejam siglas históricas, pois a história do movimento estudantil brasileiro é de pertencimento exclusivo dos e das estudantes que lutaram no passado, que lutam no presente e que lutarão no futuro. As entidades são expressões simbólicas da luta, mas não são a luta em si. Somos herdeiros dos jovens estudantes da ALN, que deram suas vidas pela libertação nacional e pelo socialismo, somos herdeiros dos Comandantes Marighella, Joaquim e Zilda, que romperam com o pacifismo burocrata do velho Partidão, portanto não há patrulhamento pelego que possa nos parar. A luta dos estudantes é encontrada na força potencializada dos estudantes em cada escola, em cada universidade, não se encontra restrita em algumas bandeiras e siglas. Não nascemos para bater palmas em vitórias alheias, porque de fato é isso que ocorre com o conjunto de forças políticas que a cada dois anos levam estudantes para assistir o congresso já definido pelos crachás marcados. Não existimos para jogar jogos jogados.

E sobre aquele arroz com feijão, a conjuntura mudou radicalmente, é preciso ser diferente, é preciso inovar, é preciso radicalizar e ampliar ao mesmo tempo, velhos verbos que não saíram do papel naquelas entidades, e que a JPB buscará executar na ALE no próximo período.

Não é menor recordar nossa divergência profunda com questões de ordem administrativa, e em certa medida moral. Sem moralismo burguês conservador, ao contrário, munido da moralidade revolucionária, a JPB considera uma vergonha imensa o ocorrido com a obra da sede da UNE na Praia do Flamengo, no Rio de Janeiro. Aquilo que era para ser uma aula de história às novas gerações de estudantes, uma reparação histórica após o criminoso incêndio da ditadura militar, infelizmente acabou se tornando uma página infeliz da recente trajetória da União Nacional dos Estudantes com a inexplicável não realização da obra, mesmo após quase R$60 milhões de reais aportados pelos governos petistas de Lula e de Dilma Rousseff. Os estudantes que morreram na ditadura militar, muitos deles diretores e diretoras da UNE, jamais mereceram essa mácula sem propósito, uma mancha que só colaborou com a reação da direita.

Não orientamos simulacros de debates entre figuras do campo conservador e do campo progressista em nossas entidades estudantis de base, algo duro e de grande incômodo para a nossa militância, mas que fazemos justamente para positivar a credibilidade dessas entidades de base em meio ao período de total descrédito social dos organismos populares, estudantis e sindicais, enfim, não nos sacrificamos tanto para depois ter que carregar uma dívida com o povo e com a história do movimento estudantil que não é nossa, que não tivemos culpa e “que nem sabemos quem teve” (caso da sede da UNE alertado no parágrafo anterior).

De modo semelhante, temos diferença gritante com o método de encaminhamento da expedição da carteira de identificação estudantil (CIE), a popular “Carteirinha Estudantil” de meia-entrada, regulamentada pela Lei 12.933/2013, que possui trechos inconstitucionais para beneficiar as entidades UNE/UBES/ANPG. Todavia, poderia ser diferente o entendimento caso a cúpula da força dirigente dessas entidades tivesse a grandeza de compreender que a legitimação dessas entidades seria maior se a produção do documento de meia-entrada fosse diversificada, ainda que com uma taxa própria maior em favor daquelas entidades. Entretanto, a prioridade da referida força política, e logo a prioridade daquelas entidades nacionais, é monopolizar a produção dos documentos estudantis em um só local (São Paulo), tratando estudantes por um impessoal e-commerce (comércio virtual). Não é obra do acaso que o Governo Bolsonaro deseja acabar com a necessidade da carteira de meia-entrada para estrangular as entidades estudantis, mas não será por acaso igualmente que se tenha uma baixa resistência entre estudantes (para além da vanguarda). Ao contrário, dependendo de como Bolsonaro atuar nesse tema, há risco real de apoio das massas estudantis. Por isso, que a JPB impulsiona a Ação Libertadora Estudantil (ALE) para que busque ao máximo emitir carteiras estudantis com paralelo trabalho de base explicando que se trata de um direito, que se trata de uma luta também contra o monopólio da UNE/UBES/ANPG, e que Bolsonaro não pode acabar com essa conquista! Do mesmo modo, pela lógica da ALE de filiação de estudantes, além de eventuais filiações de entidades de base, aproveita-se o momento de fabricação da carteira, majoritariamente presencial (e pouco virtual), para buscar filiar o máximo de estudantes brasileiros e brasileiras.

Interessa destacar nossa autocrítica e crítica aberta sobre as debilidades na área de comunicação em todo o campo progressista, e em especial neste documento nas entidades estudantis, algo que não é problema de comunicação somente, é um grave problema político. É triste dizer o óbvio, mas precisa ser dito que os agentes imperialistas do MBL (Movimento Brasil Livre) possuem hoje mais peso e capilaridade do que as tradicionais entidades estudantis nacionais. E mesmo sendo um fator de análise os valores recebidos em doações generosas dos grandes capitalistas daqui e de fora por esses agentes do império, igual vale admitir que eles conseguiram tamanho engajamento com um plano muito bem elaborado, ao passo que as entidades estudantis nacionais seguem em rota de incompetência e queimados pelas máculas aqui já citadas, além da sombra do antigo governismo petista que fez delas verdadeiras correias de transmissão do lulismo, beirando ao descrédito popular.    

Nossa decisão é uma decisão para além da tática, nossa decisão é uma decisão estratégica de construir um novo campo na juventude do povo brasileiro, de construir um novo movimento estudantil em torno de uma entidade-movimento, que respire luta, organização e competência em busca de conquistas reais e concretas.

As contrariedades já não são pequenas. As estratégias são imensamente distintas, nós pela Revolução, e eles (força dirigente daquelas entidades) pela socialdemocracia. E por tudo expressado neste documento da JPB, tem-se a posição pelo afastamento definitivo das entidades UNE/UBES/ANPG.

Entretanto, com muita responsabilidade, que fique claro: a unicidade institucional não é mais possível, mas a unidade nas ruas contra os ataques dos inimigos da educação, dos inimigos do Brasil, dos inimigos do povo, essa sim, jamais nos furtaremos, desde que haja compromisso sincero e real pela unidade, ou seja, desde que haja respeito pela pluralidade do movimento estudantil.

A Juventude Popular Brasileira (JPB) – setorial de juventude da Organização A Marighella – Construção do Partido Revolucionário – deve definitivamente concentrar todos os esforços na construção e no fortalecimento da Ação Libertadora Estudantil (ALE), entidade-movimento que luta pela educação que o Brasil precisa, educação necessária rumo à educação popular!

Venceremos!

Disciplina, Malandragem e Revolução!

A Junta Coordenadora da setorial Juventude Popular Brasileira (JPB) – setor de jovens da Organização A Marighella – Construção do Partido Revolucionário.

Brasil, 03 de julho de 2019; ao centésimo oitavo ano de imortalidade do Comandante Carlos Marighella.