Parece que vivemos um momento em que o deboche contra os setores mais marginalizados, explorados e oprimidos da sociedade, desatou na língua dos carrascos do povo. Desde o golpista Michel Temer com uma de suas primeiras propagandas, e uma das mais cínicas, pedindo ao trabalhador brasileiro para que não pense na crise, mas trabalhe, entre outras frases debochadas infelizes, chegamos na semana retrasada com mais dois momentos em que a covardia explícita volta à tona e vira notícia, declarações que já estão se tornando comuns no Brasil pós-golpe, no Brasil do absurdo.
Primeiro, Crivella, o prefeito fundamentalista religioso do Rio de Janeiro, brincou com o tema das enchentes que trouxeram problemas e falta de luz para muitas pessoas no Rio de Janeiro, algumas ficando quase uma semana sem luz, dizendo “Lá em São Paulo também tem enchente. Vão até lançar um programa novo: o ‘Balsa Família!”. Depois, na mesma semana, a judoca Rafaela Silva foi vítima de mais um caso de racismo estrutural.
A história começa desta vez como centenas de histórias sempre começam quase que diariamente: novamente um policial efetua uma abordagem racista contra uma mulher negra no Rio de Janeiro. Só que dessa vez, a mulher negra era Rafaela Silva, por ironia, aquela judoca que deu a volta por cima nas Olimpíadas do Rio 2016, vencendo a primeira medalha de ouro para o Brasil nos Jogos, se recuperando da derrota em eliminatória nas Olimpíadas de Londres 2012, o que à época gerou uma truculenta perseguição racista nas redes socais. Ao vencer a medalha na Rio 2016, Rafaela não se calou e ironizou os racistas dizendo que “a macaca que tinha que estar na jaula” agora era “campeã”.
O novo episódio de racismo sofrido pela nossa guerreira Rafaela ocorreu após uma chegada de viagem ao Rio, quando se encaminhando para sua casa na Zona Oeste, a judoca acabou abordada de dentro de um táxi. A ação aconteceu por quatro policiais que de dentro da viatura iniciaram uma intimidação contra a jovem que estava no táxi. Em seguida, os policiais ligaram a sirene e mandaram o taxista encostar. E em plena Avenida Brasil toda observando, a judoca teve que lembrar aos policiais quem era ela para evitar a continuidade de um ato de despreparo e de truculência. Por sua sorte, o taxista afirmou ter buscado a jovem no aeroporto, o que gerou a infeliz, e absurdamente preconceituosa, resposta do policial “achei que tu tinha pego ela na favela”. Em desabafo nas redes sociais, Rafaela disse: “agora preto nem de táxi pode andar que deve estar assaltando, roubando”.
Momentos depois, ainda no mesmo dia do ocorrido, a PM do Rio de Janeiro divulgou nota dizendo que as declarações de Rafaela não ajudariam no combate à criminalidade. Contudo, o racismo também não ajuda em nada no combate ao crime! E sim, o grito de Rafaela é um grito de indignação contra os inúmeros casos ocultados de abuso de autoridade, de racismo flagrante promovido pelos aparatos repressivos do Estado burguês! Na prática, é um grito de combate à criminalidade. Ou abuso de autoridade e racismo não são crimes? E isso sem entrar no debate do que significa crime e de quais reais objetivos da repressão nesse Estado burguês brasileiro.
De toda forma, ainda que com certo atraso, queremos parabenizar a coragem de Rafaela que, em tempos de dura repressão para a população pobre, e principalmente negra, no Rio de Janeiro, não se omitiu, aproveitando positivamente o seu prestígio social como atleta reconhecida para enfrentar mais essa agressão, um caso semelhante a tantas situações que têm sido vivenciadas cada dia mais após a intervenção federal militar no estado fluminense. E se Rafaela não fosse uma judoca renomada, o que teria acontecido?
Toda solidariedade à Rafaela Silva! As suas conquistas não foram nem serão por acidentes, os avanços do povo negro trabalhador não chegaram sem suor, sem sangue, sem lágrimas. O racismo nunca nos faltou. Mas nosso combate também não! E que jamais falte o combate contra o racismo estrutural brasileiro, opressão potencializada pela exploração maldita capitalista, que jamais nos falte!
Solidariedade à Rafaela Silva, a Dandara do judô brasileiro! A luta continua!
Brasil, 05 de março de 2018; ao 107º ano de imortalidade do Comandante Carlos Marighella.
Junta Coordenadora da Setorial Negra e Indígena da Organização A Marighella – Construção do Partido Revolucionário