O Jornal Zero Hora, periódico impresso do Grupo RBS (afiliado da Rede Globo no Rio Grande do Sul), divulgou no seu exemplar de ontem (18/01/2017), em matéria sobre a “megaoperação” montada pelas instituições de segurança pública na capital gaúcha por causa das mobilizações contra uma eventual condenação do ex-presidente Lula (folhas 6 e 7), que “A preocupação maior é com grupos como A Marighella (cujo nome homenageia ex-guerrilheiro de esquerda e que tem se caracterizado por pichar locais ligados à ditadura militar)… Eles participaram ativamente em protestos de 2013“.
Diante do exposto, o Comando Nacional da Organização A Marighella – Construção do Partido Revolucionário – expede esta nota em resposta ao Jornal Zero Hora e às instituições de segurança pública.
1. Ainda que tenha participado das manifestações multitudinárias em 2013, a Organização A Marighella, fundada em 6 de julho daquele ano, surgiu justamente como fruto de uma análise concreta sobre a incapacidade organizativa do campo progressista naquelas mobilizações e sobre a decisiva influência reacionária que infelizmente tomou a condução da funcionalidade daqueles atos, bem como surgiu pela necessidade de união entre comunistas, patriotas e populares na retomada da senda luminosa de Construção do Partido Revolucionário.
2. Igualmente, cumpre esclarecer que há muito A Marighella manifestou-se pela desfiliação do PT (Partido dos Trabalhadores) e pela urgente luta por uma frente ampla na forma de movimento patriótico e popular (Resolução V. Comando Nacional. 12/12/2016). Percebemos que o PT, Lula e Dilma cumpriram um papel histórico importante em nosso país, seja na redemocratização, seja nos avanços sociais em seus governos, seja na reconfiguração do campo progressista na América Latina, seja na colaboração de um bloco contra-hegemônico mundial via BRICS. Todavia, os erros e as limitações petistas estão colocados de tal maneira intransponível que impedem a superação do golpismo.
3. Um dos principais motivos de nossa desfiliação foi a decisiva atuação do PT e de seus satélites lulistas da Frente Brasil Popular na contramão da radicalização combativa contra o golpe de 2016. A flagrante desorganização de uma real resistência popular contra o impeachment aliada a uma absurda inabilidade de articulação política no parlamento e nas forças vivas da sociedade foram fatores determinantes de nosso distanciamento com o PT, legenda que nos abrigou democraticamente por certo período.
4. Muito do que hoje passa Lula, que verdadeiramente é vítima de uma perseguição judicial promovida por protagonistas do golpe, é resultado do erro petista em defender a judicialização e a criminalização da política por anos, seja na oposição, seja no governo federal. Toda vez que o PT e seus satélites fazem uso do judiciário para resolver um conflito claramente político, estão o PT e seus satélites reforçando a supremacia do judiciário sobre a política e sobre os demais poderes da superestrutura do Estado burguês. Da mesma forma, toda vez que o Governo Federal petista defendeu de modo estúpido e moralista uma autonomia desenfreada da Polícia Federal e das operações judiciais midiáticas (“Lava Jato”, por exemplo), estava o PT cavando mais um buraco da sua própria criminalização e de suas lideranças, dentre as quais o ex-presidente Lula. Isso sem mencionar na lei antiterrorismo que intimidou qualquer resistência real frente ao golpe imperialista, e segue a intimidar aqueles que de fato ousam lutar para além da institucionalidade; e sem falar das indicações grotescas ao Supremo Tribunal Federal (STF). Enfim, o PT adora venerar seus algozes.
5. Não por acaso, Lula, mesmo perseguido, criminalizado, com o país na rota da miserabilidade, do pleno desemprego e da fome, não vê problemas em pensar na reedição de uma Carta aos Banqueiros para acalmar o mercado, marcando compromisso de manter juros estratosféricos, de não tocar no tripé macroeconômico neoliberal, e de não revogar as contrarreformas antipopulares e as privatizações antinacionais do governo golpista de Michel Temer, o que talvez possa até influenciar em outro resultado no julgamento do dia 24 de janeiro que não seja a infeliz e quase certa condenação por três desembargadores. Mas e o Brasil? E o povo brasileiro com isso?
6. Embora tenha decidido somente se manifestar sobre o “Caso Lula” depois do veredito do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da Quarta Região), A Marighella viu-se obrigada pela matéria da Zero Hora a expressar nesta nota que não participará de qualquer ato em defesa da campanha presidencial de Lula, pois enxerga assim as mobilizações que estão sendo organizadas para a próxima semana sob a sectária e isolacionista palavra de ordem “eleição sem Lula é fraude”.
7. Além disso, A Marighella realizou filiação democrática em modo avançado no PDT (Partido Democrático Trabalhista), legenda do eterno herói da Pátria Leonel Brizola, e abertamente defende a candidatura progressista do companheiro Ciro Gomes (Resolução VI. Comando Nacional. 30/07/2017), timoneiro do projeto nacional-popular de desenvolvimento econômico e de ampliação de direitos sociais, único líder no plano imediato capaz de retirar o Brasil das garras do golpismo, justamente porque não faz acordo com os golpistas, diferentemente de Lula. Porém, democraticamente, esperamos que Lula não seja condenado por ser flagrantemente persecutório seu processo judicial, esperamos que ele tenha seu direito político à candidatura presidencial assegurado, e que essa onda de criminalização política seja finalmente interrompida. Não ficaremos em cima do muro, como nunca ficamos em nossa curta mas gloriosa história combativa, não afirmaremos genericamente que esperamos um “julgamento justo”. Afinal, justiça nesse caso concreto será a absolvição de Lula.
8. Por fim, mesmo que seja inerente à Construção do Partido Revolucionário enfrentar a perseguição dos aparatos repressivos e as falácias da grande imprensa burguesa, A Marighella faz questão de frisar que a “preocupação maior” das instituições de segurança pública deveria ser fundamentalmente o combate ao clima de insegurança pública causado pela violência urbana, tão agravada pela desigualdade social crescente. Por que não montam uma “megaoperação” de combate aos homicídios e aos roubos? Por que não montam uma “GGI (Gabinete de Gestão Integrada)” para investigar a corrupção do Governo Temer e, no Rio Grande do Sul, do Governo Sartori, que atrasa os salários do funcionalismo público, e em especial nesse caso, dos próprios policiais, mesmo tendo dinheiro em caixa na Secretaria da Fazenda? Onde estavam os agentes da ABIN (Agência Brasileira de Inteligência) quando o país foi atacado pela inteligência do imperialismo norte-americano, ora financiadora e arquiteta do golpe de 2016 para garantir a vexatória entrega do pré-sal?
Não há policiamento para proteger o trabalhador e a trabalhadora, os verdadeiros brasileiros e brasileiras de bem, dos assaltos cotidianos, dos homicídios, dos estupros, dos sequestros, mas há um imbecil policiamento para ficar vigiando os passos de uma organização política? E ainda por cima, a risível incompetência é tanta que desconheciam nossa desfiliação do PT. Ora, se os policiais que se prestam a esse serviço sujo resolverem ler nossos documentos, certamente perceberão que é por melhores salários, melhores condições de trabalho, e por um nova concepção de segurança pública, que também lutamos. Dessa forma, em vez de ficarem nos perseguindo nas ruas, nas redes e nos jornais, poderiam lembrar que somos irmãos trabalhadores, poderiam fazer greves de soldados, poderiam avançar contra os senhores da guerra, da fome, da corrupção e da miséria, que tanto fazem nosso país e nossa brava gente sofrerem.
Por uma Frente Ampla em defesa do Brasil e de seu povo! Avançar na Etapa Nacional-Libertadora!
Defender o Projeto Nacional-Popular! Brasil pra frente, Ciro Presidente!
Marighella Vive!
Brasil, 19 de janeiro de 2018; ao 107º ano de imortalidade do Comandante Carlos Marighella.
Comando Nacional da Organização A Marighella – Construção do Partido Revolucionário