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Combater o lulismo não significa endossar a lava jato

Artigo do Camarada Alex Xavier Pereira, membro da JPB (Juventude Popular Brasileira), trabalhador da construção civil e estudante de Direito.

Entender o mundo em que vivemos é o primeiro passo para que possamos, a partir disso, mudá-lo. Analisar friamente essas estruturas e a dialética do processo do capitalismo enquanto membros da grande pátria latina e da nação brasileira se faz mais necessário ainda. Conhecer o inimigo, suas armas e suas táticas é, sem dúvida, mapear a desenvoltura da luta de classes para que possamos superar esta difícil fase de nossa história, ora a barbárie. A luta de classes se assemelha à gravidade. Concordando, discordando, teorizando a favor ou contra, de pouco importa, aqui há um fato inconteste, e esse fato é soberano aos juízos de valores alheios: estamos submetidos a luta de classes.

Como já havia analisado Lenin: “o imperialismo é a fase superior do capitalismo”. É difícil, quando mencionamos o imperialismo e quando a vítima em questão é a América Latina, ignorar uma grande obra do Eduardo Galeano, que se chama “As veias abertas da América Latina”. No capítulo 3 dessa, Galeano alerta que os Estados Unidos e a burguesia norte-americana investem na América Latina com a finalidade de obter matéria-prima de que necessitam para suas indústrias, seu rentismo e seu comércio, dos mais diversos setores e ramos, uma vez que não possuem essas determinadas riquezas naturais e potenciais de produção sob o seu território nacional. E não precisa de muita investigação para concluir que Galeano foi cirúrgico nessas análises. Existem evidências claras em diversos documentos da CIA e no Wikileaks, da participação dos EUA nos golpes de estado ao longo do século XX na América Latina, protagonizando sangrentas ditaduras.

Os intelectuais capachos do imperialismo entenderam e amadureceram suas táticas com o processo histórico; ficou visível a eles, que os novos golpes precisam ser mais carregados de subjetivismo e precisam passar de forma galante pelo âmbito jurídico, a tal ponto que a própria tese de golpe seja desacreditada por própria parte da esquerda; quanto mais pelos populares e pela direita. O golpe de estado que sofreu o Brasil em 2016 é um grande exemplo disso. O capital estrangeiro tem financiado think-tanks neoliberais de toda ordem, como por exemplo o MBL (que começa suas atividades embrionárias em junho de 2013), Revoltados Online, Mises Brasil, Spotniks, entre outras organizações e movimentos de ordem reacionária, visando desestabilizar a consciência de pátria, soberania e autodeterminação econômica brasileira, apoiando claramente medidas antipopulares e antinacionais como uma suposta “saída” para problemas sociais antigos. Tem dominado também o judiciário a tal ponto que estes se curvem e se prostrem como fantoches diante dos interesses internacionais. A mídia brasileira está totalmente emparelhada com a ideologia entreguista do neoliberalismo pernicioso que corrói a nossa economia, promovendo retrocessos inadmissíveis. Usando sofismas com o slogan “anticorrupção” – moralismo hipócrita da direita e extrema direita –, carregaram as camadas médias babando ódio com a camisa de uma das instituições mais corruptas que se tem notícia que é a CBF. A função da grande mídia burguesa é totalmente orquestrada: a difusão do anticomunismo, da antipolítica, e principalmente hoje de um antipetismo cego, irracional, crivado no mais detestável ódio irracional fascista.

Desses mesmos ataques reacionários com ultraje neoliberal, sofrem as forças políticas do bolivarianismo na Venezuela, e os objetivos são nítidos: há uma crise de precificação do petróleo que é global. A América Latina possui as maiores reservas petrolíferas do ocidente. O papel das forças reacionárias, que neste espectro macabro nos circulam, tem por interesse o domínio da exploração não só de nossas riquezas naturais, como da força de trabalho de nosso povo, entregando toda mercadoria que nos pertence em forma de commodities, no preço mais barato que puder – a custa de nossa exploração. Também com esses mesmos intentos houve o enfraquecimento do kirchnerismo na Argentina com a eleição de Macri, que ataca o proletariado argentino e as massas periféricas, gerando relações de submissão plena ao imperialismo ianque e de rompimento com a integração latino-americana. Apenas para exemplificar que a onda reacionária não é exclusividade brasileira.

Voltando ao conteúdo local, temos consciência e entendemos que petismo e o lulismo em si foram um adubo para o próprio golpe na institucionalidade brasileira. A era petista, entre os governos Lula e Dilma, cumpriram com quase toda, absolutamente, quase toda agenda neoliberal, e com os contratos imperialistas, concedendo mais e mais força aos seus próprios algozes. Independente dos avanços sociais que tivemos, é preciso, enfim, superar esse projeto falido, dependente e covarde frente aos ataques contra o povo brasileiro, frente ao golpe por exemplo. Mas absolutamente sob nenhuma circunstância podemos apoiar a lava jato, e seus absurdos inconstitucionais e protofascistas, que tem por objetivos principais: a criminalização da política e o desmantelamento da economia nacional (setores produtivos).

O papel da lava jato e seu espetáculo midiático é, se não outro, nutrir o reacionarismo no povo brasileiro e a desmoralização internacional do Brasil, criminalizando bandeiras populares dignas, além de fazer despencar o preço de todas as exportações, agravando a crise, protagonizando desemprego em massa (15 milhões), e “magicamente” apresentando “soluções” surreais como: a revogação de direitos trabalhistas; a reforma previdenciária que acaba com a aposentadoria; e a terceirização irrestrita, algo que a médio e longo prazo será entendido por análogo à escravidão. Também, tem como tarefa rebaixar as relações de trabalho fundiárias à níveis semi-feudais.

A saída para virar o jogo é intensificar o diálogo com a classe trabalhadora através de um trabalho de base consistente, apresentando uma agenda de soberania nacional; propagando o sindicalismo revolucionário, combativo e consequente, denunciando o peleguismo que lá se instalou há tempos, desde que o “novo sindicalismo” deixou de ser “novo”; revigorar o movimento estudantil combativo; impulsionar o movimento comunitário urbano; dentre outras tarefas árduas que estão colocadas no cotidiano das lutas.

Compreender que o combate ao lulismo é tarefa crucial para recolocar o projeto nacional e popular, hoje liderado pelo companheiro Ciro Gomes, no centro do diálogo com as massas trabalhadoras, não significa em nenhuma medida endossar a lava jato e a agenda reacionária das operações sensacionalistas do judiciário que só visam a criminalização da política, usando o “combate à corrupção” como mecanismo de justificativa para isso.

Precisamos afastar o lulismo do seio do movimento operário e do vértice do campo progressista. Porém, é na boa disputa programática, é na crítica aberta aos erros e covardias do PT, inclusive recentemente diante do golpe, ou seja, é na diferenciação política que vamos construir o fim da era lulista em definitivo. Não será, como quiseram setores do esquerdismo, apoiando o moralismo conservador “anticorrupção”, não será passando cheque em branco para Sérgio Moro e companhia, que avançaremos. Antes de atacar o lulismo pelo desvio comportamental e eventuais casos de corrupção, preferimos acusar o lulismo de ser alicerçado no rentismo e nos acordos com o império, basta lembrar que Henrique Meirelles era e ainda é o nome forte de Lula para o Ministério da Fazenda, curiosamente o mesmo Henrique Meirelles que é ministro de Temer.

O novo sempre vem. O Brasil vai superar Moro, Lava Jato, e vai superar o lulismo. Queremos debater a Pátria, pois a Pátria não se vende. Queremos debater o povo, pois ao povo servimos de todo o coração.

 

Camarada Alex Xavier Pereira