O Brasil atravessa uma encruzilhada histórica. A tentativa de golpe que culminou nos atos terroristas do dia 08 de janeiro de 2023 foi apenas o desfecho de uma longa trama golpista, orquestrada desde o início do Governo Bolsonaro. Não há margem para dúvidas: o golpismo não começou com a invasão das sedes dos Três Poderes, mas foi semeado ao longo de quatro anos de ataques sistemáticos às instituições “republicanas” da democracia burguesa.
Agora, mais do que nunca, é imperativo que o Brasil rejeite qualquer forma de anistia para os responsáveis por esses crimes. Não pode haver condescendência com golpistas! É necessário avançar nas investigações e garantir a punição exemplar de todos os envolvidos na flagrante tentativa de golpe de Estado. Não apenas aos executores dos atos do dia 08 de janeiro, mas também aqueles que financiaram, organizaram e insuflaram o caos, assim como aos que planejaram o assassinato de Lula e Alckmin.
Entre esses responsáveis, Bolsonaro ocupa um lugar central. Como Presidente, ele não só estimulou a corrosão das instituições, como se beneficiou diretamente da propagação do golpismo. Contudo, as investigações deixam claro que o golpismo transcende Bolsonaro. Há indícios consistentes de que uma fração dos militares – aquela que nunca abandonou sua nostalgia autoritária – pretendia dar um golpe até mesmo contra o próprio Bolsonaro. Um movimento calculado, que expõe as divisões internas de uma elite militar que não se compromete com os mínimos valores democráticos.
Esse contexto reforça a urgência de uma intervenção civil nas Forças Armadas. Não se trata de atacar as Forças Armadas em sua essência, porém de reformular profundamente seu papel e estrutura, para que jamais sejam um instrumento contra o povo e a democracia. É preciso extirpar o golpismo de seus quadros e submeter seu alto comando à autoridade civil e constitucional.
A Escola Superior de Guerra, por exemplo, que há décadas alimenta a retórica golpista, deve ser reformulada profundamente. Seu currículo e seu alto comando precisam ser reconstruídos para refletir o Brasil democrático que queremos construir. A democracia não pode viver refém de generais que enxergam o país como uma extensão de seus interesses corporativos e de suas nostalgias de 1964.
Ao mesmo tempo, para que o Brasil seja, de fato, soberano, não podemos depender de fatores externos ou permissividades internas. O golpismo deve ser enfrentado com firmeza e coragem. O futuro da democracia brasileira, ainda que nessa etapa liberal e burguesa, não pode depender das decisões do imperialismo estadunidense. Em 2022/23, os Estados Unidos não apoiaram a tentativa de golpe dos bolsonaristas, mas em 1964 apoiaram o golpe. Ou seja, não se pode depender dos interesses ianques. O destino do Brasil deve ser decidido pelo povo brasileiro. E isso, a esquerda majoritária do país precisa finalmente aprender.
Sem anistia! Cadeia para os golpistas! Intervenção civil nas Forças Armadas! O destino do Brasil pertence ao povo brasileiro!
O Comando Nacional da Organização A Marighella – CPR.
Brasil, 04 de dezembro de 2024 (ao centésimo décimo terceiro ano de imortalidade do Comandante Carlos Marighella).